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Sanabria: pela deselitização do vinho

Foto do escritor: Guilherme Lobão de QueirozGuilherme Lobão de Queiroz


Abriu nesta quarta-feira, em Brasília, a nova loja/bar do vinhateiro e enólogo gaúcho Carlos Sanabria, precursor da ainda marginal cultura do vinho natural por essas bandas: Sanabria Buteco de Vinho, na 708/709 Norte.


(Sanabria chegou à capital federal um par de anos antes da pandemia, ocasião na qual o conheci, com o discurso que, até o momento, não me fazia sentido. Vinho natural não era um conceito legível para mim, até conhecer e me aprofundar nesse estilo de vitivinicultura durante parte do doutorado realizado na Itália, quando trabalhei com o filósofo Nicola Perullo. Ele cunhou a expressão "epistenologia", a partir de pesquisas da experiência com vinho natural).


Ao voltar, reconheci nos vinhos de Sanabria uma afeição às experiências que tive com os vinhos de Rinaldi, Bera Vittorio e Valentini. Wine bars eram italianamente chamados por ali apenas de enoteca. Sem estrangeirismos e sem muito protocolo. Era vinho e o que pudesse acompanhar: queijos e umas massinhas (tipo salgado) recheadas típicas da região. Sentava-se ao lado de fora e o atendimento informal. Muito próximo ao estilo das casas de vinho que curto em Brasília, IVV Swine Bar e Balcão.


O recém-inaugurado Sanabria Buteco de Vinho apresenta uma novidade também para este modelo de enotecas locais, febre recente e crescente na capital. São muitos wine bars novos (Palomina foi o mais novo que conheci, mas está para abrir o Somm - acho).


Sanabria propõe uma abordagem diferente. Primeiro pela experiência de se beber vinho diretamente do produtor. Normalmente, as enotecas (inclusive lá fora) oferecem rótulos diversos. Por aqui, às vezes tão diversos a ponto de serem assépticos (caso daqueles bares amarrados por contratos de importadoras com rótulos genéricos, vinhos de fábrica etc.).


Segundo, Sanabria se destaca pela deselitização do vinho (ao menos da cultura do vinho), com taças de R$ 15 a R$ 25, saindo da torneira, como se fosse um tâte-vin, a experiência de prova na pipeta que fazemos em adegas.


Por enquanto há só 4 opções em taça (chegará a 6 em breve): um branco de mesa (sim, o vinho de mesa do Sanabria, com uva Lorena, é bem agradável e remete a um tempo mais simples e antigo das culturas vitivinícolas nacionais); um rosé e dois tintos varietais, um pinot noir e um merlot não barricado.


A terceira diferença que o destaca no mercado local é por se tratar de vinhos de mínima intervenção, vulgo naturais. E não apenas por serem naturais, mas o trabalho de Sanabria está, aos poucos, comparável ao de grandes fomentadores do estilo no país, como Era dos Ventos, Atelier Tormentas e Valparaíso Vinhos e Vinhedos (esta última afetadíssima pela tragédia climática no RS).


São justíssimos os 90+ pontos que Sanabria coleciona de Revista Adega, Gula e Descorchados. O enólogo volta anualmente a Bento Gonçalves para as vindimas das uvas que compra para seus magníficos (e premiados) rótulos, desenhados à mão e que remetem sempre a alguma personalidade da cultura (principalmente brasileira, mas também do blues norte-americano).


No barzinho aberto na 708/709 Norte, Sanabria apresenta um menu focado em petiscos. Do lado de fora, cadeirinhas de praia naquele modelo hipster de cafeterias descoladas. Atendimento informal. Realmente está mais para um boteco de vinhos do que para o estrangeiro e pretensioso modelo de wine bar. Vida longa!



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